quarta-feira, 29 de abril de 2009

Para onde vai a Geografia?

“A geografia é, entre todas, a disciplina que interpretou a visão do estudo da Terra como um fenômeno global.” (K. Boulding)

Hoje, faz-se necessário e indispensável uma reavaliação dos conceitos encerrados na Geografia. O curso percorrido por esta disciplina parece não acompanhar as transformações sucessivas que ocorreram e ainda o fazem, no campo da epistemologia cientifica. A contribuição do conhecimento geográfico para a ciência, nunca foi tão necessária, como em nossos dias, onde o planeta, sob o efeito da “globalização da sociedade e da economia gera a mundialização do espaço geográfico” (S. Amim, in Santos, 2008 p. 31).

A descaracterização da ciência, sob a coerção capitalista, permite que os conhecimentos atuem sobre os instrumentos de trabalho optando pela tecnologia, cujos objetivos são mais econômicos que sociais. Esse processo produtivo contraditório gera desigualdades sociais extremas e admite-nos enxergar sua arbitrariedade, submissão e inclinação a uma direção contrária àquela proposta em benefício das sociedades, e onde o valor das coisas se dá em função da obtenção direta do lucro. O trabalho científico foi praticamente colocado a disposição da produção (M. Santos).

A crítica tímida da Geografia, ainda dicotômica, que tem conceitos físicos tão compactos e coesos, descuidou-se enquanto ciência social, tornando-se incapaz de propor soluções que venham a mitigar os efeitos severos e desumanos da problemática indicada por outras ciências. Por conseguinte, aponta Milton Santos, tratar-se de “uma disciplina ameaçada, cujas ameaças vêm muito mais dela, em seu estado atual, do que das disciplinas vizinhas”.

As ações do homem, em uma escala global, estruturaram e formaram as condições fundamentais para que o arcabouço dessa disciplina seja reestruturado em nossos dias. As definições clássicas do espaço geográfico remontam a idéia de uma sociedade interagindo com a natureza bruta. Segundo Santos, “o espaço deve ser considerado como um conjunto indissociável, de que participam de um lado, certo arranjo de objetos geográficos, objetos naturais e objetos sociais, e, de outro, a vida que os preenche e os anima, ou seja, a sociedade em movimento”.

Portanto, como a natureza se transforma, em seu todo, o espaço passa a assumir uma importância fundamental e nunca teve a oportunidade de ser tão geográfico como o é hoje.

A partir do momento em que a natureza é reconhecidamente dinâmica, as suas relações com o homem sofrem constantes renovações, tornando-se necessário a renovação das disciplinas que a estudam.

Talvez, segundo Santos, a velha tradição das escolas nacionais de geografia tenha sido o obstáculo para se chegar a um estágio de estudos geográficos globais.

Ora, com a internacionalização da economia, da produção e da informação, começou a ouvir-se falar de cidades mundiais, verdadeiros centros de distribuição como elementos de uma imensa teia interconecta e que estrutura toda a vida social do planeta. O que se vê é a mundialização do espaço inteiro, não havendo um só ponto isolado no globo.

Isso reafirma o mundo como um conjunto de possibilidades que precisam, hoje, ser descritas pelas ciências que abarcam a vida social e dão forma à sua estrutura. Cabe, portanto, a Geografia, por força das novas condições de realização da vida social, reafirmar-se através de um novo olhar rumo ao seu objeto de estudo, traspassando os conceitos “paleodialéticos” das geografias clássicas (Santos, 2008 p. 33) e mesmo os atuais.

A “ciência crítica” deve renovar-se a partir das realidades que condicionam o seu desenvolvimento, necessitando de forma iminente de geógrafos comprometidos e apaixonados empenhados na compreensão de cada fração do espaço mundial, interpretando-o no momento em que o planeta torna-se realmente mundializado, convertendo toda potencialidade da ciência geográfica em ato.


 

Referências Bibliográficas

 

Santos, Milton. Metamorfoses do Espaço Habitado. São Paulo, EdUsp, 2008.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Ciclo Geográfico (W. M. Davis)

Durante o final do século XIX e início do século XX, os pesquisadores se preocuparam em compreender a seqüência de eventos que levaram à formação de diferentes paisagens. O modelo proposto por Davis (1890 – 1930) foi o primeiro a explicar tal fato.
Assim como outras teorias, a teoria de W. M. Davis recebeu muitas críticas, por ser direcionada a áreas com clima temperado. Marques (2005) ressalta que a proposição davisiana “constitui o primeiro conjunto de concepções que podia descrever e explicar, de modo coerente, a gênese e a seqüência evolutiva das formas de relevo existentes na superfície terrestre”.
Para Davis, o ciclo iniciava-se com um rápido soerguimento, advindo de forças endógenas incidindo em superfícies aplainadas, que se elevariam criando desnivelamentos em relação ao nível do mar. A ação da água corrente e da erosão normal, atuando sobre o relevo inicial, dividi-lo-ia reduzindo sua topografia, até criar uma nova superfície aplainada (peneplano), e assim, o novo soerguimento daria lugar a um novo ciclo erosivo.
De acordo com Marques (2005), entre o instante inicial e o final muitas formas típicas seriam reveladas e modeladas transparecendo sucessivos momentos evolutivos, inclusive na vida orgânica, passando o relevo pelas fases de juventude, maturidade e senilidade.